quarta-feira, 27 de maio de 2009

Caixa de sonhos.

Por Tati Rosset

Hoje é o dia da alegria. Mentira, mas hoje foi um dia bom. Ontem eu li um texto do Veríssimo, e juro que nunca me identifiquei tanto com um texto quanto ontem, foi a experiência mais mágica da minha vida, saber que um dos meus maiores ídolos é tão estranhamente parecido comigo. Me explico:

Ele relata uma consulta dele com um psicólogo, e enquanto ele está na sala de espera, esperando para ser atendido, ele começa a reparar nas pessoas que estão no mesmo espaço que ele, e cria histórias super fantasiosas sobre as mesmas, que no fim acabam sendo bem mais simples do a que a imaginação do autor.

Eu me sinto exatamente como ele, é algo realmente impressionante. Quando estou no metrô, a coisa que mais gosto de fazer é olhar pra alguma pessoa e imaginar a história de vida delas, seus sonhos, suas angústias. É intrigante, tantas coisas surgem na sua cabeça de uma hora pra outra, porque uma expressão revela tantas coisas!

É mais normal criar histórias para as pessoas da minha faixa etária. Como pego o metrô muito cedo de segunda a sábado, normalmente são as pessoas que tem o mesmo estilo de vida que eu (entende-se cursinho) que pegam metrô no mesmo horário. Não querendo “puxar o saco” da minha geração, mas é incrível como o nosso olhar transmite sonhos. Parece que com o tempo, nossos sonhos vão se perdendo, nos vamos no tornando mais preocupados em ganhar dinheiro do que em realmente realizar nossos sonhos. E isso não acontece só da faixa “jovem” pra faixa “adulta”, mas sim em todas as fases!

Por exemplo, quantos sonhos nós não tivemos na nossa infância que nunca nem realizamos. Sabe aquele pônei rosa que você queria colocar no seu quarto de 2x2? Não ganhou né? E aquele castelo que você ia construir naquele país que você nem conhecia o nome (e hoje você já sabe a bacia hidrográfica e o relevo do lugar)? Esqueceu dele também?

Nós tínhamos tantos sonhos! E eles eram sazonais! Trocavam com a mesma facilidade que trocávamos de roupa. E, conforme o tempo passa, nossos sonhos vão se perdendo, vão se tornando menos importantes.

Nosso sonho de salvar o mundo da poluição se perde quando precisamos trabalhar numa fábrica que só gera lucro quando produz poluição. Nosso sonho de acabar com a pobreza acaba quando precisamos de subordinados, que nos obedeçam não por respeito, mas pelo 13° do final do ano.

Espero não ser assim, espero continuar tendo sonhos. Não só os concretos! Quero sonhar principalmente com o que não consigo tocar, quero criar meu próprio refugio, minha caixa de sonhos! E talvez eu consiga...

Talvez se eu não esquecer de quem sou hoje,
Talvez se eu não esquecer de quem está do meu lado hoje,
Talvez se eu não me distraísse tanto,
Talvez se eu não falasse sozinha comigo mesma em lugares públicos (e lotados),
Talvez se eu transformasse o mundo em algo mais simples,
Talvez se eu tivesse minha caixa de sonhos,
Talvez se você tivesse a sua,
Talvez o mundo e os sonhos não seriam um tão grande talvez.

3 comentários:

  1. Pensava sobre isso esses dias... "Crescer" é abandonar o que fomos em prol do que todos desejam que sejamos? Espero que não!

    Avante, sonhadores inveterados, observadores sociais perspicazes! O mundo ainda é nuvem, evitemos o sol de rachar a cuca!

    Lindo texto! (adoro posts filosóficos)... Dica musical: "Lukik 9", do Gilberto Gil! É bem contextualizado!

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  2. mando muito!!!pra variar.
    Seu Rosset é austriaco???

    abraçossss

    Marcelo

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  3. nossa nao sabia que voce tinha um blog!!
    parabens ai!!
    os textos tao bem legais!!
    depois da uma passada la no meu se voce ainda nao viu!!
    beijaoo!!

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Obrigado pelo comentário :]